Por Luis Miguel Modino
Uma das novidades do pontificado do Papa Francisco é a escuta, dimensão muito presente no Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia. O Padre Victor Codina fazia ver isso aos participantes de um dos vários seminários que estão acontecendo em preparação ao Sínodo para a Amazônia e que foi realizado em Roma na semana passada.
Em seu discurso, que foi intitulado “Amazônia, Ver e Escutar”, o jesuíta ressaltou a importância de incrementar a escuta ao método tradicional de ver, julgar e agir, insistindo que “a Igreja no sínodo quer ir um passo além, escutar os povos amazônicos, se deixar abalar pelo clamor, pela história de sua paixão”, uma atitude que Francisco insiste na Episcopalis Communio, como tinha feito em Puerto Maldonado, em seu encontro com os povos indígenas, que a Igreja da Amazônia pôs em prática em seu longo processo de escuta.
Esta escuta tem mostrado, de acordo com o Padre Codina, “que é um povo ameaçado de morte, um povo explorado por concessões madeireiras, megaprojetos das hidrelétricas, petróleo, mineração e monoculturas, rodovias e ferrovias, com poluição de rios, caça e pesca predatória, o tráfico de drogas , a expulsão do território, a perda de suas culturas originarias, criminalização e assassinato de seus líderes e defensores do povo”, endossando as palavras do Papa Francisco em Puerto Maldonado, “nunca o povo da Amazônia tinha sido tão ameaçado como agora”.
Mas os povos indígenas também tem lamentado as atitudes da Igreja, que dizem que, na opinião do jesuíta, que “apesar de sua grande ajuda, ainda fica distante, colonial, clerical, impositiva, alheia às suas línguas, culturas e espiritualidade, mais de visita do que de presença próxima”, uma atitude que deve provocar uma
De fato, “só ouvindo o povo da Amazônia poderemos conhecer sua verdade, uma verdade que não é expressão simplesmente racional de sua visão de mundo, mas seu sentimento-pensamento, sua vida, seu sofrimento”, insiste o Padre Victor Codina, que disse que “apenas escutando o clamor dos povos amazônicos poderemos denunciar profeticamente a injustiça dos poderosos e buscar uma conversão ecológica integral da sociedade e da Igreja, construir uma Igreja com rosto amazônico, salvar a Amazônia e o Planeta Terra “. Essa é uma atitude que sempre esteve presente na Bíblia e que “os crentes da tradição judaico-cristã não devem se surpreender”.
Finalmente, o jesuíta refletiu sobre os acentos que surgiram após a publicação do Instrumentum Laboris, enfatizando fortemente na “sugestão da ordenação sacerdotal de indígenas, mesmo que já constituíram família”, e silenciar “o clamor do povo ameaçado de morte”, vindo a se perguntar se este “não é um sequestro da verdade”, porque para saber o que é a verdade na Amazônia precisa “ouvir o grito da terra e dos pobres”. O resultado será “promover uma consciência ecológica integral, dar à Igreja um rosto amazônico, defender os direitos do povo e salvar o Planeta Terra, que é a nossa casa comum”, disse o Padre Codina.
Foto de Capa: site religión digital